22/02/2013
Um petroleiro foi assaltado, no Golfo da Guiné, no início deste mês, por gangs terroristas nigerianos. O assalto, inédito na zona, coloca à vista de todos aquilo que até agora era passado em silêncio: um imenso problema de segurança na zona em que se insere a Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e também a sua vizinha Guiné Equatorial… Dois pequenos Estados membros da CPLP e um pequeno Estado candidato, todos três ricos em hidrocarbonetos e com posições geográficas privilegiadas numa zona da mais alta importância para o abastecimento energético da Europa.
Há cerca de uma dúzia de anos que um alto responsável político de S. Tomé alertou Lisboa para o cenário da “invasão das pirogas” vindas da Nigéria. Este político sugeria um apoio português que funcionasse como dissuasão para tal cenário. Por exemplo, que ao abrigo de um acordo especial uma companhia de comandos portugueses estivesse uns tempos “em instrução” em S. Tomé e fosse, no fim da sua temporada, substituída por outra, num sistema rotativo que nunca deixaria o pequeno país lusófono desamparado. A sugestão ainda aguarda a concretização da resposta portuguesa…
A Guiné Equatorial, situada na mesma zona e partilhando ameaças comuns com S. Tomé (por razões comuns: a imensa riqueza em hidrocarbonetos…) tem insistentemente procurado, fazendo valer os séculos em que integrou o império português, ser admitida na CPLP, para quebrar algum isolamento na zona e sentir-se mais ‘confortável’. Também há anos que espera… Lisboa tem ignorado em absoluto o estado calamitoso da segurança no Golfo da Guiné e muito menos foi capaz de compreender os riscos e ameaças na zona e, sobretudo, ignora as oportunidades que tal situação lhe pode oferecer.
Mais atenta (como vem sendo hábito), Madrid tem aproveitado e tem, procurando ganhar influência na zona, sido pró-activa. Basta ler com alguma atenção esta recente notícia: “El destacamento de Infantería de Marina enviado a la costa oeste de Guinea para formar a militares de varios países en materia antipiratería ya ha finalizado su misión y prepara su regreso a España (…) representantes de la U.S.Navy, impulsora y principal sustento de la misión ‘Africa Partnership Station’, como se denomina a esta iniciativa internacional, ha trasmitido recientemente a mandos de la Armada su satisfacción por la labor de los representantes de la Marina española”.
Lisboa nunca mostrou a capacidade de ter uma “intelligence” da importância e da situação estratégicas da zona do Golfo da Guiné e nem dos “trunfos” que tem e detém para a zona e nem como usá-los para se afirmar, projectar influência e ajudar a resolver problemas regionais de segurança. A realidade, porém, acaba frequentemente por se meter pelos olhos dentro, mesmo dos que não querem ver. E, depois de assim terem de ver, é conveniente que deixem de fazer como se não vissem…
O assalto ao tanker Le Gascogne, no dia 2 Fevereiro, em águas da Costa do Marfim, fez a demonstração de que o cenário da “invasão das pirogas” não é fruto de imaginações febris mas de uma acertada leitura da situação na região. Ficou claro, desde 2 Fevereiro, que os ‘gangs’ do Delta do Niger têm capacidade para realizar operações em qualquer ponto deste Golfo. E que, se não têm apoios no aparelho de estado da Nigéria, contam pelo menos com a passividade do Estado nigeriano que, em terra não desarticula estes gangs e, no mar, se mostra incapaz de garantir a segurança da navegação e permite o assalto a petroleiros.
E, a acrescentar a isto, há agora mais isto: Nigeria: An al Qaeda-linked Group Kidnaps Foreign Workers… E isto: The Rise of a New Nigerian Militant Group
CPLP, “we have a problem” !