Países dos leitores

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sábado, 27 de fevereiro de 2021

-" O Bairro Português de Malaca (Malásia) "

Malaca foi a porta da Europa para o Oriente e um centro mercantil onde os portugueses criaram um importante entreposto comercial nos séculos XVI e XVII. Pelo estreito de Malaca cruzavam-se todas as rotas entre a Índia e o Sudeste Asiático.
Malaca ocupou um lugar de relevo na história ultramarina portuguesa a par de Goa e Ormuz desde a sua conquista em 1511 por Afonso Albuquerque. Foi um importante elo do "Império em Rede" português (um chokepoint, em linguagem moderna) de onde partiram várias expedições, entre elas a que chegou à ilha de Samatra, no arquipélago das Molucas, hoje Indonésia. Além da feitoria, os portugueses construiram uma fortaleza tão imponente que ficou conhecida como “A Famosa”, da qual ainda resta a porta (fotografia abaixo; fazer clique na foto para ampliar).


Malaca era uma cidade cobiçada e os holandeses (com o apoio dos, ao tempo, seus aliados ingleses)  aproveitando o estado de guerra em que se encontravam com o rei de Espanha que, por azar, também era o rei de Portugal, conquistaram-na em 1641.

Os portugueses perderam Malaca mas deixaram lá uma herança tão forte que, apesar da presença holandesa e mais tarde inglesa, perdura até hoje.
No Bairro Português de Malaca os “Portugueses de Malaca” falam o Papiá Kristang, o dialecto nativo onde abundam palavras do “português antigo”. A comunidade teima em resistir ao esquecimento, debatendo-se pela conservação dos costumes, das tradições e das festas religiosas como San Juang e San Pedro. Porém, a preservação destas memórias está em vias de desaparecer. O pouco “do falar português” tem os dias contados. A geração mais nova limita-se a aceitar os apelidos de origem portuguesa mas não fala o português nem o Papiá Kristang. É com pesar que os mais velhos testemunham o diluir das histórias que os seus antepassados deixaram, assim como, o diluir de um idioma incapaz de resistir à supremacia da língua Inglesa.
Apesar de tudo, tem sido extraordinária a forma carinhosa como o Governo da Malásia tem tratado esta comunidade e a memória da presença dos portugueses, do qual pequenas provas são as fotos que se juntam. 

( Réplica de Nau portuguesa onde se encontra instalado um museu recordando a presença

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

"CIRCUM-NAVEGAÇÃO": a viagem que não devia ter acontecido !

 MAIS  UM  EQUÍVOCO  DA  HISTÓRIA


Fernão de Magalhães

Contrariamente ao que nos ensinaram  ( e continuam a ensinar ), a viagem de Fernão de Magalhães nunca teve a finalidade de provar que a Terra era redonda. 

A esfericidade do nosso planeta é conhecida desde a Antiguidade Clássica e ninguém com um mínimo de cultura a punha em causa.

A verdadeira causa da viagem foram os avultados lucros que os portugueses obtinham com as especiarias originárias das Ilhas Molucas, que provocaram a cobiça de Carlos V, o semi-falido imperador do Sacro Império Romano-Germânico que por heranças se tinha tornado rei de Itália, Aragão, Castela, Áustria, Países-Baixos e outros.

Esta cobiça encontrou eco em Fernão de Magalhães que, segundo parece, estava na posse de documentação que lhe permitia aceitar que as Ilhas Molucas se situavam no hemisfério castelhano, segundo o Tratado de Tordesilhas. Magalhães viu aí a sua oportunidade e apresentou a sua teoria a Carlos V, que a aceitou.

O objetivo da viagem era chegar às Ilhas Molucas por Ocidente, constatar a sua verdadeira localização e regressar pelo mesmo trajeto sem violar o hemisfério português. 

Fernão de Magalhães, consciente das dificuldades que iria encontrar, soube rodear-se, na planificação da viagem dos melhores cientistas portugueses no campo da Física, da Cosmografia e da Astronomia, o que lhe permitiu ficar com um conhecimento muito  próximo da realidade.

Mas nunca Magalhães pensou que ao chegar às Filipinas iria constatar que as Ilhas Molucas se situavam no hemisfério português e que a viagem tinha falhado o objetivo.

Apesar disso, não se pode ignorar o feito extraordinário que foi navegar em linha reta no Oceano Pacífico (a que deu o nome) e a sua contribuição para alargar o conhecimento da humanidade.

Ainda hoje não se sabe o motivo porque Magalhães navegou de ilha para ilha, nas Filipinas, durante 45 dias acabando por se expor numa batalha que o vitimou. Há historiadores que aceitam a hipótese de ele não ter querido enfrentar a deshonra da derrota e ter escolhido uma espécie de suicídio. 

O feito de Magalhães foi tamanho que os capitães que lhe seguiram, sentindo-se incapazes de fazer a viagem de regresso, preferiram optar pela rota do hemisfério português correndo o risco de serem aprisionados pelos portugueses. 

E foi assim que, como resultante de um fracasso e num ato de desespero, se cumpriu a tão manipulada viagem de circum-navegação.

Uma coisa é certa: Fernão de Magalhães foi um extraordinário português digno de toda a nossa admiração e espero que no próximo dia 27 de abril, em que se comemoram 500 anos da sua morte, saibamos recordá-lo com dignidade.