Países dos leitores

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

«A manipulação do "DIA DA RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA"»

Como foi dito na publicação anterior, um texto de autoria de Vasco Pulido Valente fez com que eu me decidisse a dar a minha contribuição para tentar destruir o logro que foi criado à volta do dia 1 de dezembro de 1640. 



Qualquer pessoa bem informada e bem intencionada (que não é o caso de alguns historiadores e políticos) sabe que a trama urdida à volta do que aconteceu no dia 1 de dezembro de 1640 é obra da máquina propagandista do Estado Novo. Custa-me muito aceitar que os que fizeram o 25 de abril e os políticos que se seguiram não tivessem a coragem e o discernimento  de retirar a esse dia a carga ideológica e dar-lhe o verdadeiro significado. Não havia necessidade de continuar a aproveitar a histórica má vontade dos portugueses contra os espanhóis, porque acima disso havia já motivo suficiente para festejar o dia.

No dia 1 de dezembro de 1640, o que houve foi um Golpe de Estado para substituir o Rei legítimo, que por acaso tinha nascido em Espanha, colocando no se lugar um nobre nascido em Portugal.

Alguma aristocracia portuguesa fica muito mal nesta história, não por aceitar um Rei que, embora com descendência portuguesa, não tinha nascido em Portugal, mas por se ter deixado comprar por Filipe II de Espanha.

Quem já fica melhor nesta história é Filipe II, que além de ser o legitimo herdeiro da coroa portuguesa, pagou fortunas à maioria da aristrocacia portuguesa que se vendeu, e ainda teve que lutar contra os nobres que não se venderam.

Daí a sua célebre frase: "tenho direito à coroa portuguesa porque a herdei, a comprei e lutei por ela".

Além disso, comprometeu-se a respeitar a independência portuguesa e que nenhum cargo em Portugal e no Império seria ocupado por outros que não portugueses. Este compromisso foi cumprido também pelos dois Filipes que lhe seguiram, até ao momento em que Filipe IV de Espanha, III de Portugal precisou de ajuda dos portugueses, em homens e dinheiro, para as suas guerras europeias. Aí, complicou-se tudo, porque os interesses portugueses ficavam em jogo.

Porém, já antes disso existiam tensões e descontentamentos depois da perda de algumas embarções portuguesas que integravam a chamada "armada invencível" e, principalmente, pelos saques que holandeses e ingleses vinham fazendo em várias zonas do Império Português, com a justificação de que eram territórios do rei espanhol com quem estavam em conflito.

Considerando tudo isto, gostaria que os governantes portugueses se deixassem de manipulações e dessem ao dia 1 de dezembro uma designação de acordo com a realidade, tal como, por exemplo,  "Dia da Restauração da Monarquia Portuguesa" o que não tem nada a ver com independência.
Termino com o que Vasco Pulido Valente disse, com muito mais autoridade do que eu: « O "1.º de Dezembro" comemora a ascensão da dinastia de Bragança e não uma putativa independência que não deixara de existir.»



sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A fantasia sobre o 1º de dezembro, dia da "INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL"

 A minha dúvida de se valeria a pena denunciar a mentira que rodeia o 1º de dezembro, "DIA DA INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL", foi dissipada ao receber, de um esclarecido amigo meu, o texto que Pulido Valente publicou a este respeito, em 2012, e que transcrevo a seguir. Neste sentido, irei aprofundar este tema em reflexões a publicar em breve.

«Convém lembrar que Portugal nunca esteve, como se costuma dizer em prosa patriótica, "sob o domínio de Castela" ou, se preferirem, "sob o domínio de Espanha". O arranjo de 1580 não passou de uma "união pessoal" da coroa portuguesa com a coroa de Castela (ou de Espanha) na pessoa de Filipe II, que era o herdeiro legítimo das duas. Como se vê, nada que nos separasse na Europa do Império Austríaco ou do Reino Unido da Inglaterra, Escócia e Gales. De resto, a ordem jurídica portuguesa não mudou, nem a organização da Igreja, nem a defesa do Império, nem a carga fiscal que anteriormente se pagava. Só quando o conde-duque de Olivares nos pediu mais dinheiro e um pequeno contigente de soldados para a guerra europeia, o espírito patriótico da nobreza indígena finalmente acordou e resolveu instalar D. João IV num trono contestável e periclitante. O "1.º de Dezembro" comemora a ascensão da dinastia de Bragança e não uma putativa independência que não deixara de existir.»

Vasco Pulido Valente (Público, 5 de Fevereiro de 2012)