Países dos leitores

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sábado, 26 de fevereiro de 2011

-" O avanço do Islão na Europa "

Muitos europeus conscientes estão preocupados com o progressivo aumento do número de muçulmanos na Europa e com o efeito que a islamização pode trazer aos seus hábitos de vida, às suas crenças e ao seu bem-estar.
Mas poucos estão consciente que este é só mais um capítulo da islamização da Europa iniciada com a expansão para Ocidente do Império Otomano que estendeu, no Séc. XVI, o seu domínio até às fronteiras da Áustria e da Polónia, incluindo todos os territórios compreendidos entre o Mar Adriático e o Mar Negro e a Grécia. Com recuos e avanços, este domínio permaneceu na zona dos Balcãs até à I Guerra Mundial.
( para aumentar clique na imagem)

Com a derrota dos turcos, o Império Otomano desmoronou-se, mas deixou para trás grande quantidade de seguidores do Islão que perfazem 90% da população da Bósnia-Herzegovina, 12% da Bulgária, 10% da Albânia, 1% da Grécia e toda a costa romena do Mar Negro, ao que se tem de juntar a parte europeia da Turquia.
Atualmente, a enorme emigração para os países do Ocidente, constitui uma invasão consentida que aumenta, grandemente, a quantidade de muçulmanos na Europa.
Os receios dos europeus, a xenofobia de alguns e o comportamento de certas comunidades islâmicas, contribuem para que a Europa seja, neste momento, um local de grandes tensões sociais.
O vídeo que se segue, a ser um documento autêntico, mostra uma desnecessária manifestação pública de fé, realizada em Viena e, por muitos, considerada como uma provocação. Se não for autêntico, é uma repugnante manifestação de xenofobia.     
A.Norton

domingo, 20 de fevereiro de 2011

- "Os «chokepoints» do Império Português"


                     Extensão das explorações portuguesas e principais chokepoints do Império Português
A expansão portuguesa começou com a conquista de Ceuta em 1415 (que, só por si, já constituiu uma inovação, pois foi a primeira operação anfíbia da história) obedecendo a um plano estratégico, elaborado pelos responsáveis da época, apoiados pelos Infantes Henrique e Pedro, que tinha o objetivo de neutralizar Veneza que detinha o monopólio do fornecimento à Europa das apreciadas mercadorias do Oriente. Veneza adquiria em Alexandria, dominada pelos sultões mamelucos, estas mercadorias que chegavam lá pelas mãos dos mercadores muçulmanos depois de concluírem o trecho final da Rota da Seda.
A estratégia dos portugueses consistia em encontrar o Preste João e fazer dele um aliado que permitisse impedir que Veneza tivesse acesso a essas mercadorias.
Com a subida ao trono de João II o plano estratégico sofre grande evolução definindo como objetivo concreto o cerco em tenaz ao comércio muçulmano.
A progressão dos portugueses foi evolutiva e geograficamente variável abrangendo costas e rios da África Ocidental à procura do Preste João e do estratégico Rio Nilo, passando pela espionagem e pela procura de uma rota marítima alternativa para a fonte das especiarias.
O encontro do Preste João pouco adiantou (os primeiros encontros oficiais só decorreram na Etiópia em 1508 e em Lisboa em 1514) mas pelo caminho ficou consolidada uma economia que mudou o modelo tradicional da economia do país e provocou uma revolução no comércio internacional.
Com o rei Manuel I e depois da chegada à India, concretiza-se o primeiro Império Mundial em Rede e introduz-se a inovação das plataformas estratégicas, hoje denominadas de chokepoints, cobrindo o Atlântico, toda a costa africana, o Mar Vermelho, todo o Índico, a costa ocidental da Índia, o Pacífico até às Molucas e os Mares da China e do Japão.  
As explorações portuguesas, num período de cerca de 100 anos, estenderam-se da Costa Oriental das Américas do Norte e do Sul até ao Japão e à Austrália.

A.Norton

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

- Os avalistas da Lusofonia"

VIEIRA E CAMÕES
OS AVALISTAS DA LUSOFONIA.

J. Jorge Peralta
Diz-nos Pessoa que nossa pátria é a Língua Portuguesa
Uma pátria de muitos países, povos e nações
Uma pátria lusofônica, multiétnica, multinacional e multicultural
nos quatro cantos do mundo sediado.
Esta é uma realidade fantástica
que a todos engrandece e espanta,
nosso coração aquece e nossa força rejuvenesce.

Camões e Vieira são símbolos vitais
de nossa cultura e de nossos ideais.
 Ao lado de Pessoa, Eça, Antero e  Drummond,
Rosa, Gonçalves Dias, Castro Alves e Rui Barbosa,
estamos ladeado por uma plêiade imensa de imortais
das ciências, das letras e das artes,de todo o espaço lusófono procedentes.

São símbolos vitais da nação lusofalante:
e a  Torre de Belém e o Mosteiro da Batalha,
A Catedral de Brasília e o Cristo Redentor
E mais uma lista que não se acaba,
na Europa, na Ásia, nas Américas, na África,
no Oriente e no Ocidente.
Onde quer que haja uma comunidade Lusofalante.

São relicários de nossa auto-estima
E do orgulho nacional, lingüístico e cultural.
São obras monumentais, para honra e glória de nossa gente.
São fortes agentes da unidade e da solidariedade nacional,
e de toda a lusofonia.

Camões e Vieira são os avalistas da lusofonia,
desta comunidade imensa de pessoas de muitas etnias.
É uma “pátria” irmanada num idioma culto e belo,
a Língua Portuguesa, nosso veículo de comunicação,
de pensamento, de sentimentos e de ação.
É nossa pátria, nosso chão.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

- "Que parva que eu sou"- Os Deolinda.

Do Coliseu ao Cairo

por MARIA DE LURDES VALE in "DN Opinião" de30 Janeiro 2011

Na sexta-feira à noite, os Deolinda tocaram no Coliseu de Lisboa. No final, no último encore, sentiu-se um arrepio na sala. Foi comum. Sentiu-se que foi comum. E de tal forma assim foi que todos os que ali estávamos começamos a levantar-nos aos poucos e a aplaudir, sem parar, o que nos transmitia a voz - que grande voz! - de Ana Bacalhau, vocalista deste grupo que tão bem canta a vida portuguesa. Alguns de nós sabíamos que, lá fora, neste mundo a que todos pertencemos, havia quem, da Tunísia ao Egipto, estivesse, nas ruas, a lutar pela liberdade com o fim de alcançar uma vida mais digna. Outros saberiam mais. Que esse grito de revolta, que está a fazer história em frente aos nossos olhos, foi primeiro ensaiado através das redes sociais, da Internet, e do espaço virtual que todos partilhamos. Que, no mês de Dezembro, em Sidi Bouzid, 260 quilómetros a Sul de Tunes, Mohamed Bouazizi, um jovem licenciado de 26 anos, imolou-se pelo fogo para protestar contra um velho regime de cleptocratas que não lhe deixou outra alternativa que o seu próprio sacrifício. E que esse sacrifício não foi em vão. O regime caiu.

Naquela sala do Coliseu de Lisboa, muitos mais saberiam muito mais coisas. Que o que se passa nalguns países do Magrebe está a ter um efeito-dominó e a contagiar o resto do mundo árabe. Que são os milhares de jovens universitários, a quem nada mais resta nos países onde nasceram que fugir em busca de um qualquer trabalho clandestino na Europa ou nos EUA, onde é difícil entrar, que lideram esta revolta. Que na capital do Egipto há confrontos, mortos e feridos, tanques, jactos de água, mas que nem por isso a rua deixa de ser o palco dos protestos. Que a chama foi acesa por um discurso histórico de Obama, em Junho de 2009, quando disse no Cairo que "todos nós partilhamos este mundo por apenas um breve momento no tempo" e que "a questão é saber se queremos passar esse tempo concentrando-nos naquilo que nos diferencia, ou se estamos dispostos a um esforço, contínuo, para encontrar um terreno comum e concentrar-nos no futuro que queremos para os nossos filhos, e respeitar a dignidade de todos os seres humanos".

Naquela sala do Coliseu de Lisboa, a vocalista dos Deolinda, do alto dos seus 33 anos, anunciou que a última canção era nova e que era "dura" de ouvir. Chama-se "Que parva que eu sou" e diz assim: "Sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição. Que parva que eu sou! Porque isto está mal e vai continuar, já é uma sorte eu poder estagiar. Que parva que eu sou! E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar..."

Que parvos que somos

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Nota: não fazendo parte do artigo transcrito, segue-se a letra da canção e um vídeo que dá conta da reação do público no Coliseu do Porto.

Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar

Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "casinha dos pais"
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar

Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou
Sou da geração "eu já não posso mais!"
Que esta situação dura há tempo demais

E parva não sou
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

sábado, 12 de fevereiro de 2011

- " Portugal na China "

Macau

No processo de expansão do seu Império em rede, os portugueses chegaram à China nos princípios do Séc. XVI.

O plano de expansão inteligentemente elaborado no reinado de João II e brilhantemente continuado no reinado de Manuel I, previa a neutralização da “Rota da Seda”, através da qual eram mantidas as relações comerciais entre a China e Constantinopla e de aí com Veneza.
Usando o que hoje se designa por hard power após o fracasso do soft power, a conquista de Malaca, em 1511, abriu o Pacífico aos portugueses e, com isso, o acesso à China.

As relações com a China foram efetuadas pela via oficial e pela via privada.
As relações oficiais foram difíceis, devido à política xenófoba iniciada pelo Imperador Zhu Di e seguida pelos seus sucessores Zhu Gaozhi e Zu Zhanji que puseram fim às navegações do Almirante Zheng He e fecharam ao Mundo as portas da China.
Tomé Pires, o embaixador português, teve de aguardar três anos, alguns dos quais na prisão, para falar com o Imperador.
A via privada foi muito mais eficiente e, já em 1513, Jorge Alvares conseguiu armar um Junco e iniciar o comércio entre a China e Malaca. Numa praia isolada construiu uma cabana que servia de abrigo aos mercadores portugueses que se aventuravam até ao mar Amarelo e implantou nela um padrão com as quinas para afirmar que a região pertencia ao rei de Portugal.
Este espaço de terra ficou célebre porque foi nele que morreu S. Francisco Xavier.
Outros mercadores fizeram o mesmo que Jorge Alvares e, desafiando as proibições imperiais, alargaram o comércio até à India através de Malaca.
Os chineses acabaram por reconhecer o benefício deste comércio e aliado ao facto de os portugueses terem acabado com a pirataria no mar da China, em 1557 a proverbial sabedoria encontrou uma solução hábil para permitir a presença dos portugueses e o comércio sem infringir a proibição: deram aos portugueses uma ilhota ligada ao continente por um histmo, no qual construíram um muro para indicar que ali acabava a China.
Tinha nascido o território de Macau ! ….
Rapidamente a pequena aldeia se transformou numa ativa cidade comercial que foi, até 1675, a única porta de saída do comércio chinês, tanto para a Europa como para Malaca e Japão. Porém só em 1887 é que a China reconheceu, oficialmente, a soberania e a ocupação perpétua portuguesa sobre Macau.
Em 1967, ativistas chineses pró-comunistas originaram um motim que contestava a posse perpétua de Macau e, em 1987, Portugal e a República Popular da China acordaram que Macau passaria, de novo, para a soberania chinesa em 20 de Dezembro de 1999.

Macau foi território português durante 400 anos e foi o primeiro e o último território europeu na China.
Hoje continua em franco desenvolvimento e Portugal continua presente em cada esquina, como se pode verificar nos videos que se seguem.

A.Norton



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

- "Artigo do Embaixador Britânico em Portugal"

Artigo do Embaixador Alex Ellis, ao deixar Portugal publicado no jornal “Expresso” em 18 de Dezembro de 2010

Coisas que nunca deverão mudar em Portugal

Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento e de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.

1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.

2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta, não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem
. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância.
Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés
. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.

10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

- "Casamento / Alambamento em Angola"

Casamento tradicional é abençoado com dólares

Até aos anos 80,o alambamento resumia-se a uma celebração para as famílias dos futuros casais e as coisas impostas pela família da noiva resumiam-se a uma pequena “cesta básica”. Uma muda de pano para a mãe ou tia da rapariga, um garrafão de vinho para os pais e os tios. Mas no Norte de Angola, o alambamento sempre teve um dote mais pesado.
Nos dias de hoje, o alambamento é uma “fortuna”. Algumas famílias exigem ao noivo valores exorbitantes. Zambrotta dos Santos sabia de antemão que tinha de pagar uma multa, pelo facto da rapariga com quem pretendia casar se encontrar grávida e disse, considerar-se felizardo pelo facto da família da mulher não ter feito grandes exigências no alambamento: “foi uma cerimónia informal, porque as famílias já se conheciam. Mas como eu engravidei a moça antes do pedido e na região do pai dela se exigia este ritual, então só tive de cumprir o que já estava estabelecido para não quebrar as regras”.
O alambamento é a oficialização do casamento tradicional entre duas pessoas. O antropólogo Afonso Teca disse que a sua concretização só é possível depois da resposta dos familiares da noiva, após uma carta do rapaz. A carta, por exemplo, na região da Damba, província do Uíge, deve fazer-se acompanhar de uma garrafa de whisky e 250 dólares. O whisky é uma bebida importada e o dólar uma moeda estrangeira, mas há quem chame a isto “tradicional”.
Afonso Teca diz que “só depois da resposta é que o rapaz e a família se apresentam em casa da moça com os bens exigidos para a realização do acto”, disse.
Na Damba são exigidos 450 a 500 dólares para o dote, dois fatos, duas peças de pano do Congo, dois garrafões de vinho, dez grades de cerveja (importada) igual número de grades de gasosas, dois pares de sapatos, dois pares de chinelas, duas garrafas de whisky. Tudo muito tradicional.
O dote também pode incluir um garrafão de maruvu, cola e gengibre, duas galinhas, um petromax e dois lenços de cabeça e de bolso. Este alembamento pode também variar de família para família. Neste caso particular as galinhas simbolizam a fertilidade da mulher.
Na região de Sanza Pombo, província do Uíge, na lista podem constar caixas de fósforos, armas de caça, porcos, cabritos e outros bens. Neste município, diz o antropólogo, as famílias são mais exigentes.
“Existem famílias que chegam a pedir mil dólares e o valor pode estar relacionado com as qualidades da noiva”. Este negócio das listas faz pensar que os pais estão a vender a filha. Mas Afonso Teca descansa os mais preocupados com o negócio: “o alambamento é uma simbologia que exprime respeito e admiração e quando o homem não oficializa a sua relação com o alambamento nem sempre a mulher é respeitada dentro de sua casa”.
Afonso Teca revela uma boa notícia: “Hoje muitas famílias já não pedem nada ao moço, o que não quer dizer que o rapaz perca admiração diante da família da mulher”.

O dólar na carta

A exigência do dólar na carta do alambamento deve-se à desvalorização da moeda nacional, que pelos vistos prejudica a tradição. O antropólogo Afonso Teca disse que em muitos pedidos, nem sempre o rapaz paga o dote por completo para permitir que a família da rapariga se desloque à casa do rapaz para analisar as condições sociais em que vive a sua filha.
Dado o tempo que pode levar até à gravidez, se a moeda for o kwanza pode nessa altura ser um valor baixo. Daí a opção pelo dólar, que até à era Mardoff tinha sempre muito valor. “Tradicionalmente o dote não era pago por completo, isto para permitir que a família da moça se deslocasse à casa do rapaz e visse as condições em que a filha vivia e a recepção que lhe era oferecida”, disse. Afonso Teca afirmou ainda que os bens exigidos ao noivo são “símbolos culturais”.

Alembamento em Luanda

Na província de Luanda o pedido depende exclusivamente da rapariga. Para a composição da lista ela também participa na discussão da família. Francisca Pinha tem 69 anos, é natural de Luanda e contou ao Jornal de Angola, que a tradição de Luanda é mais simples do que nas outras províncias.
Francisca Pinha conta que antigamente apesar do pedido ser um acto de valorização da mulher, muitas famílias acabavam por rejeitar o acto. “Havia homens que desrespeitavam e batiam na mulher. E quando a mulher reivindicava ele obrigava os pais da moça a devolver as coisas”, disse.
Esta situação fez com que muitas famílias deixassem de realizar o acto de pedido com bens: “na minha família durante muito tempo nós não realizávamos pedido devido a estes abusos”, explicou.
Na tradição de Luanda, ao homem são exigidos três pares de panos, dez grades de cerveja e gasosa, um garrafão de vinho, um fato para o pai da moça, um par de sapatos, uma camisa branca com gravata, whisky, amarula, aguardente, martini, chinelas ou sandálias para a mãe, dois lenços, o anel de noivado e um dote no valor de 500 dólares.
Francisca Pinha disse que a não realização do pedido nunca representou maldição para o casal, uma vez que o acto em si depende exclusivamente do futuro casal. “Embora seja tradição, se os jovens não quiserem não podem ser obrigados, nós desejamos a felicidade dos nossos filhos”, concluiu

In "Jornal de Angola" de 01Fevereiro2011