Esta é uma história que também faz parte da nossa História. É a lição que nos mostra que podemos sempre fazer a diferença. Se para uns somos insignificantes, para outros somos a esperança nos tempos mais negros
Autoria de Romeu Monteiro ( doutorando em engenharia eletrotécnica na Universidade de Aveiro e na Carnegie Mellon University)
Autoria de Romeu Monteiro ( doutorando em engenharia eletrotécnica na Universidade de Aveiro e na Carnegie Mellon University)
12 Mar 2014
A maior parte
dos estrangeiros sabe pouco ou nada de Portugal. Somos vistos por muitos como
um país irrelevante, que poderia deixar de existir sem causar um bocejo. Para
muita gente num outro país, somos aqueles que ajudaram a que o seu país não
deixasse de existir.
Avançámos
quando outros mais fortes não ousaram e, com um pequeno gesto, evitámos
guerras. É tempo que em Portugal se conte esta história que é nossa também.
Em Outubro de
1973, celebrava-se em Israel o dia mais sagrado do calendário judaico quando os
exércitos da Síria e do Egipto lançaram uma invasão surpresa. Já em 1948 e 1967
haviam iniciado guerras contra Israel com o propósito declarado de aniquilar o
país e “atirar os judeus ao mar”. Desta vez contavam com armamento e soldados
adicionais da Jordânia, Iraque, Koweit, Arábia Saudita, Cuba, União Soviética e
Coreia do Norte. Apesar da rápida mobilização das tropas israelitas, os tanques
árabes iam ganhando terreno. Em Israel instalava-se o pânico. A
primeira-ministra Golda Meir estava preparada para se deslocar a Washington e
implorar aos EUA para reabastecerem Israel com armas, aviões e outro material
bélico, tais as derrotas que as tropas israelitas estavam a sofrer. Apesar de
os EUA permitirem o reabastecimento, havia um problema: os países europeus
recusavam-se a autorizar os aviões americanos a usar as suas bases e espaços
aéreos na rota entre a América e Israel. Sabiam que seriam punidos pelos países
árabes por estarem dependentes do seu petróleo.
Ao ficar a
par desta situação, o Governador dos Açores telefona para Washington e
disponibiliza a base das Lajes na Ilha Terceira.
Pouco tempo
depois, começa a operação Nickel Grass e a pequena base passa a operar dia e
noite, albergando milhares de pessoas em abrigos improvisados. Os primeiros
aviões começam a aterrar na Terceira, e daí seguem para Telavive. Em Israel,
espera-se e desespera-se. Até que, finalmente, a ajuda começa a chegar a partir
do céu: são os aviões que vêm de Portugal. Um, depois outro, e mais, sempre a
chegar.
Depois das
pesadas derrotas iniciais, os israelitas dão a volta à guerra e recuperam o
território que tinham perdido até aí. Pouco depois, acorda-se o cessar-fogo.
Após a guerra, o Egipto é forçado a reconhecer que não é capaz de destruir
Israel ou de atingir os seus propósitos através da guerra. Assim, em 1978,
assina um acordo em que recebe a península do Sinai em troca da paz, um acordo
que se mantém até hoje. O Egipto torna-se o primeiro e maior país árabe a
reconhecer Israel e a estabelecer relações diplomáticas e comerciais com este,
abrindo a porta a outros países árabes que viriam a fazer o mesmo.
Depois de
1973 Israel não
voltou a ser invadido. Ficou nos habitantes do país um respeito especial pela
atitude de Portugal num dos momentos mais traumáticos da sua História, quando o
resto da Europa os havia abandonado.
Conheci esta
história através de um israelita que era soldado em 1973 e assistiu ao alívio
de ver chegar os aviões vindos de Portugal. Aviões carregados de esperança e de
futuro para uma nação pequena e jovem. Os judeus religiosos acreditam numa
passagem da Bíblia que diz que Deus abençoará aqueles que abençoam Israel. Coincidência
ou não, a verdade é que seis meses depois seria Portugal a conhecer a liberdade
e a esperança num futuro melhor e livre de guerras.
Esta é uma
história que também faz parte da nossa História. É a lição que nos mostra que
podemos sempre fazer a diferença. Se para uns somos insignificantes, para
outros somos a esperança nos tempos mais negros. Ontem salvámos um país. Está
nas nossas mãos o que faremos amanhã.