Países dos leitores

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terça-feira, 28 de junho de 2011

-" Português às camadas "

Caro Senhor J.L.R.!

A mensagem que me enviou, bem como o texto do Snr. Marcos Bagno que a acompanhava e que já publiquei, foram lidos, por mim, com o maior interesse.

Embora a minha licenciatura não seja de Letras, fui, durante alguns anos, professor de português no estrangeiro o que me põe à vontade para rebater algumas afirmações que o referido Snr. Bagno produziu.
Para facilitar a comunicação, transcreverei os trechos com os quais não concordo seguidos do meu comentário.

“Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua”.

Concordo com esta afirmação e até mesmo  já  escrevi  que  “a comunicação social é a 5ª coluna da lusofonia”.

“Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.”

Considero esta afirmação tão descabida como as que foram feitas contra o novo Acordo Ortográfico. Se afirmações destas são produzidas por alguém responsável, como poderemos criticar as dos menos preparados ?
Essa  do “português brasileiro” é sintomática de patriotismo  serôdio que leva a situações ridículas, como as dos avisos de certas “impressoras” que quando programadas para «português de Portugal» informam que “a impressão começou” e quando programadas para «português do Brasil»  dizem que “a impressão foi iniciada” !? … Isso, sim, são situações, no mínimo, patéticas !

 “Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles — se julgarem pertinente, adequado e necessário — possam vir a usá-la TAMBÉM”.

Neste trecho o Snr. Bagno consegue ultrapassar-se! O que é que ele pretende ?  Uma sociedade em camadas ? Que se guarde  o  «português correto» para quem tem posses para estudar e se  deixe  o «português brasileiro» para os favelados!?... É isto que ele pretende?
Que se faça  o favor de ensinar o português correto “àquela gentinha”  para que possa falar “certo” se julgar pertinente, adequado e necessário ?

“O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados)”.

Depois desta frase o assunto muda de figura: deixa de ser uma questão de filosofia para passar a ser uma questão de conhecimento !
O verbo “assistir” obriga à preposição “a”, pelo que dizer «assisti o filme» está incorreto. Não é uma apreciação purista!
Usar o artigo no singular quando o substantivo está no plural, está incorreto, apesar dos 101% do Snr. Bagno. Além disso, posso aconselhar uma consulta ao Dicionário Enciclopédico Koogan-Laroussse,  onde se pode ler que « Óculo » (substantivo, masculino, singular)  é um instrumento que amplifica  e «Óculos»(substantivo, masculino, plural) um par de lentes encaixadas numa armação preparada para ser colocada no nariz, diante dos olhos.

Meu caro Senhor J.L.R.!  Como vê,  o documento de que se socorreu é cientificamente  irrelevante, tendencioso, socialmente tóxico, pernicioso para a Lusofonia e contrário aos objetivos de valorização mundial da língua portuguesa.
Obviamente, além de pretender uma sociedade em camadas,  o Snr. Bagno pretende que, no Brasil, passe a falar-se um dialeto crioulo.

Envio-lhe os melhores cumprimentos.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Isto tudo se justifica porque o sr. Bagno é professor.
    E afinal professor da UnB, de Brasilia, a Capital Federal do Brasil...
    Deve ser Petista.
    E um daqueles que culpam Cabral de todos os males, e agora arranjaram um FHC, que libertou a Brasil da inflação e cometeu o Crime de criar um programa economico que serve até hoje, e falar português universal muito bem falado.
    A língua brasileira?
    Mas isto passa e graças ao que eles não podem corromper, que é a morte, e eles morrerão, se deus quiser e se deus não quiser também, ainda que tenha sido contaminado por essa onda burresca que atinge o Brasil na sua face vermelha da incompetência e preguiça, que no fundo é isso mesmo, preguiça de ensinar...

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  3. Sabe, meu amigo: a maioria dos oportunistas são iletrados mas também os há que são letrados ou que dizem se-lo.

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  4. O Sr Bagno já está mumificado?

    Sabe Arnaldo? Não sou , nunca fui acadêmica. Mas sou capaz de assistir a tv portuguesa e compreender o que falam - e acho muito bonito.

    Sou capaz também de falar o idioma com os ajustes regionais do Brasil inteiro - pois que milagre que os portugueses fizeram foi fazer com que este país continental fale a mesma língua.

    Posso ler Camões e posso ver a beleza sintética da literatura de cordel do nordeste.

    Sou apenas uma pessoa e não estou em camadas mas sim, històricamente recebi influências que jamais empobrecerão o idioma, pelo contrário, o fará mais rico e compactado de acordo com o momento e objetivo.


    O Sr Bagno deveria saber que em nenhuma outra língua isto seria possível - junto e misturado.

    Uma bonita alquimia.

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  5. Concordo contigo, Bárbara !
    Devemos aceitar e até proteger os regionalismos mesmo com os seus erros mas não deixarmos de estar
    conscientes deles.
    O teu comentário sintetisa, exatamente, o que se passa: isso é o que incomoda certas pessoas ! ...
    Um abraço, minha amiga.

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