Agora que parece estarmos perante uma nova investida dos “amigos da Amazónia” creio ser pertinente recordar este artigo. De vez em quando, é bom recordar ! ...
ANorton
Nota: este artigo foi escrito aquando das comemorações dos 500 anos da
descoberta do Brasil ;
Autora: Sandra Martins Cavalcanti de Albuquerque
(Belém, 30 agosto de 1927) é uma política
brasileira.
Quem quiser se escandalizar, que se
escandalize. Quero proclamar, do fundo da alma, que sinto muito orgulho de ser
brasileira. Não posso aceitar a tese de que nada tenho a comemorar nestes
quinhentos anos. Não agüento mais a impostura dessas suspeitíssimas ONGs
estrangeiras, dessa ala atrasada da CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialista
s que estão fazendo surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito
racial.
Para começo de conversa,
o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era completamente outro. Quando
a poderosa esquadra do almirante português ancorou naquele imenso território,
encontrou silvícolas em plena idade da pedra lascada. Nenhum deles tinha noção
de nação ou país. Não existia o Brasil.
Os atuais compêndios de
história do Brasil informam, sem muita base, que a população indígena andava
por volta de cinco milhões. No correr dos anos seguintes, segundo os documentos
que foram conservados, foram identificadas mais de duzentos e cinqüenta tribos
diferentes. Falando mais de 190 línguas diferentes. Não eram dialetos de uma
mesma língua. Eram idiomas próprios, que impediam as tribos de se entenderem
entre si. Portanto, Cabral não conquistou um país. Cabral não invadiu uma
nação. Cabral apenas descobriu um pedaço novo do planeta Terra e, em nome do
rei, dele tomou posse.
O vocabulário dos atuais
compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a denominação implantada por
dezenas de ONGs que se espalham pela Amazônia, sustentadas misteriosamente por
países europeus. Só se fala em nações indígenas.Existe uma intenção solerte e
venenosas por trás disso. Segundo alguns integrantes dessas ONGs, ligados à
ONU, essas nações deveriam ter assento nas assembléias mundiais, de forma
independente. Dá para entender, não? É o olho na nossa Amazônia. Se o Brasil
aceitar a idéia de que, dentro dele, existem outras nações, lá se foi a nossa
unidade.
Nos debates da
Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa, fazer a troca das
palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta Magna ficou com a
palavra tribo. Nação, só a brasileira.
De repente, os festejos
dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de desculpas aos índios.
Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um país. Viraram a conquista de
uma nação. Viraram a perda de uma grande civilização.
De repente, somos todos
levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos índios! Que maldade! Que
absurdo, esse negócio de sair pelos mares, descobrindo novas terras e novas
gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST, dos nacional-socialista s e das
ONGs européias, naquela tarde radiosa de abril teve início uma verdadeira
catástrofe.
Um grupo de brancos teve
a audácia de atravessar os mares e se instalar por aqui.
Teve e audácia de
acreditar que irradiava a fé cristã.
Teve a audácia de querer
ensinar a plantar e a colher.Teve a audácia de ensinar que não se deve fazer
churrasco dos seus semelhantes.
Teve a audácia de
garantir a vida de aleijados e idosos.
Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.Teve a audácia de pregar a paz
e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.
Mais tarde, vieram os
negros. Depois, levas e levas de europeus e orientais. Graças a eles somos hoje
uma nação grande, livre, alegre, aberta para o mundo, paraíso da mestiçagem.
Ninguém, em nosso país pode sofrer discriminação por motivo de raça ou credo.
Portanto, vamos parar com
essa paranóia de discriminar em favor dos índios. Para o Brasil, o índio é tão
brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e o amarelo. Nas nossas veias
correm todos esses sangues. Não somos uma nação indígena. Somos a nação
brasileira.
Não sinto qualquer obrigação
de pedir desculpas aos índios, nas festas do Descobrimento.
Muitos índios hoje andam
de avião, usam óculos, são donos de sesmarias, possuem estações de rádio e TV e
até COBRAM pedágio para estradas que passam em suas magníficas reservas. De
bigode e celular na mão, eles negociam madeira no exterior. Esses índios são
cidadãos brasileiros, nem melhores nem piores. Uns são pobres. Outros são
ricos. Todos têm, como nós, os mesmos direitos e deveres. Se começarem a querer
ter mais direitos do que deveres, isso tem que acabar.O Brasil é nosso. Não é
dos índios. Nunca foi.