Toda a verdade sobre o 13 de abril. Fortaleza tem 410 anos, a
Camara Municipal 313 e alguns políticos dizem que tem 288.
Praça de Portugal em Fortaleza
Imagine uma cidade que
completasse 288 anos e a câmara dos vereadores, 313. Pois esta cidade existe e
chama-se Fortaleza. Adauto Leitão de Araújo Júnior, historiador e pesquisador
do Marco Zero de Fortaleza chama a atenção dos fortalezenses para isso.
Diz ele que Fortaleza, na
verdade, está completando 410 anos e não 288 e que o início de sua fundação
data de 1604 quando Pero Coelho de Sousa, acompanhado por Martim Soares Moreno,
esteve no Ceará, a primeira vez, e aqui levantou o Fortim de Santiago às
margens do Rio Ceará, na Barra do Ceará. Não fosse isso, diz Adauto, Fortaleza
não existiria. E diz por quê. A origem do Brasil, segundo ele, se deu, de fato,
quando a Coroa Portuguesa instituiu as Capitanias Hereditárias. Assim, surgiu a
Capitânia do Ceará que seria governada por Antônio Cardoso de Barros. Como
Antônio Cardoso de Barros não veio para o Ceará, as terras destinadas a esta
capitania poderiam ter ficado com a capitania do Pará ou do Rio Grande do
Norte. Neste momento surgem Pero Coelho de Sousa e Martim Soares Moreno para
salvar a situação. Pero Coelho levanta o Fortim de Santiago e Martim Soares o
de São Sebastião.
A fundação de Fortaleza,
portanto, data daí, segundo Adauto Leitão. E se alguém levanta a hipótese de
que o Forte de Santiago e de São Sebastião são dois casos isolados na história
do Ceará, Adauto responde. Diz que a Câmara Municipal de Fortaleza tem 313 anos
e funcionou, a primeira vez, na Barra do Ceará e não na Luciano
Cavalcante, onde se encontra atualmente. E conta a história. Aquiraz era
uma região rica no século XVIII e, como toda região rica, resolveu se tornar
autônoma para não pagar pelo transporte de cana-de-açucar na Barra do Ceará. A
cana-de-açúcar, afinal, saía de Aquiraz, em lombo de burro, e ia dar na Barra
de onde partia, em seguida, para seu destino final. Como não havia ainda a
ponte dos ingleses nem o porto do Mucuripe, a única saída dos produtores de
cana-de-açúcar de Aquiraz era levar tudo para a Barra e embarcar. A despesa era
grande e, por causa disso, os portugueses que moravam em Aquiraz se revoltaram.
Pararam de mandar açúcar para Fortaleza. Reuniram-se e redigiram uma ata na
qual propugnavam a formação de uma câmara municipal. A primeira do Ceará. Mas
cometeram um erro. Não passaram esta informação para Pernambuco, jurisdição à
qual o Ceará estava subordinado, nem para Salvador, Bahia, onde ficava o
Governo-Geral. Mandaram uma carta diretamente para Portugal levada por um de
seus representantes. Em Portugal o rei quis saber o que, de fato, estava
acontecendo e enviou um emissário para Pernambuco a fim de saber se o povo da
Barra do Ceará concordava ou não com aquela câmara e, como resultado, surgiu a
primeira câmara de vereadores do Ceará na Barra e não em Aquiraz.
Datas Indicativas
As datas indicativas para
se comemorar o aniversário de Fortaleza antes de 13 de abril que, segundo
Adauto, foi uma decisão da ex-prefeita Luizianne Lins, eram duas. O Marco Zero,
com a chegada de Martim Soares Moreno e Pero Coelho em 1604; o 13 de abril de
1726 que se relaciona com Aquiraz e uma terceira: a formação da câmara dos
vereadores em 1701. Como não havia uma data precisa, a Doutora Leirice Porto,
que trabalhou em vários governos de Fortaleza ao longo de sua vida, tinha o
hábito de comemorar o aniversário de Fortaleza com uma peça de teatro às
margens do Rio Ceará na qual mostrava, para os presentes, como teria sido a
chegada de Martim Soares Moreno na Barra. Na peça, que contava com a
participação da Comédia Cearense, Martim Soares Moreno era interpretado por
Jorge Nerdau enquanto Ary Sherlock fazia outro personagem. Nesse tempo,
continua o historiador, ninguém gastava muito dinheiro com o aniversário de
Fortaleza. Hoje gastam milhões para apagar a memória da cidade e não para
manter. Naquela época, pegava-se um grupo de teatro cearense e trabalhava-se
com ele. Hoje, o aniversário de Fortaleza deixou de ser uma data histórica para
se tornar política.
Outra disparidade, diz
Adauto. Todas as cidades oriundas das Capitanias Hereditárias, segundo ele, têm
mais de 400 anos. São Paulo, por exemplo, comemorou 450 agora em janeiro. Rio
de Janeiro comemora 460 daqui a um mês. Salvador completará 475 e Recife 470.
Só Fortaleza completa 288. E o pesquisador do Marco Zero de Fortaleza pergunta:
será que há interesse, por parte de alguns políticos, em transformar a capital
cearense em uma cidade moderna como se isso fosse mais importante do que ser
antiga ou será que pensam que cidades modernas não podem conviver com outras,
centenárias? Se fosse assim, conclui, Roma, Paris e Berlim teriam destruído
seus monumentos. E não é o que acontece. Há, portanto, possibilidades de o
futuro conviver com o passado sem deixar de se usufruir dos benefícios do
presente tais como energia solar ou aproveitamento dágua potável.
Fonte: “o estado
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