Países dos leitores

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sábado, 30 de agosto de 2014

-" Ilha das Flores, na Indonésia, portuguesa durante 350 anos "

Agora que a Indonésia pretende fazer parte da CPLP, será aconselhável que a conheçamos melhor, e principalmente a ilha das Flores que foi portuguesa até 1856, durante cerca de 350 anos, para que não se crie uma polémica idêntica à da Guiné Equatorial. 


No maior país muçulmano do mundo existe uma ilha católica onde ainda se reza em português“. 




Flores é uma ilha da Insulíndia, situada a leste da ilha Java, na Indonésia, tendo Timor a sudeste.

Foi possessão portuguesa durante os séculos XVI a XIX (cerca de 350 anos) tendo sido cedida aos holandeses em 1856,  juntamente com as restantes ilhas de Sonda.
Em Flores falam-se diversas línguas, sendo reconhecidas, pelo menos, seis línguas diferentes





O que resta do antigo Forte português

Os
 comerciantes e missionários Portugueses estabeleceram-se nesta ilha no século XVI, principalmente em Larantuka e Sikka. A sua influência ainda hoje é identificável no falar e na cultura dessas regiões. 




 Monumento a Jesús em Maumere, Flores
A população de Flores é católica na sua quase totalidade, consequência de em Larantuca ter sido fundada uma das primeiras missões abertas pelos dominicanos portugueses, em finais do século XVI.
Todos os anos é celebrada a Semana Santa, que mantém a terminologia portuguesa e muitos dos costumes específicos da celebração desta cerimónia em Portugal. Grande parte da população católica sabe ainda hoje rezar em português antigo, apesar de o falar correcto da língua portuguesa já se ter perdido na região. Muitas destas tradições são mantidas pela Confraria de Nossa Senhora do Rosário que ao longo de quatro séculos presiste, continuando a chamar-se Confreria Reinha Rosari.
Na Indonésia 89% dos cerca de 250 milhões de habitantes são muçulmanos. A ilha das Flores entre os cerca de um milhão de habitantes, 85% são católicos.

Palavras portuguesas na língua indonésia

Só umas poucas palavras entraram na língua indonésia.
Por exemplo:
bangku ‘banco’
bibliotek ‘biblioteca’
gereja ‘igreja’
jendela ‘janela’
kapela ‘capela’
katedral ‘catedral’
meja ‘mesa’
minggu ‘domingo’
paroki ‘paróquia’
pasear ‘passear’

Expressões portuguesas usadas na região de Larantuka e Maumere

Dias da semana (usados até hoje):
Segunda-fera, tersa-fera, kwarta-fera, kinta-fera, sesta-fera, sábadu, domingo.
Nomes próprios:
Da Silfa, Da Gomes, Joanes Ribéra, Pârera, Da Cuña, Da Lopez, Carvalo, De Rosari, De Ornai, Rita.
Relação familiar:
Tio/tia, cuñadu/cuñada, pa (pai), ma (mãe), nina (menina), siñu Da Gomes (senhorzinho Gomes, no sentido de pequeno ou de carinho), nina Da Gomes (senhorita Gomes, no mesmo sentido).
Catolicismo:
Prosesi (procissão), Reña Rosari (santa padroeira de Larantuka), Tuang Mâ (Nossa Senhora), Tuang Deo (Deus), San Domingu, San Juan, konféria (confraria), gereja (igreja), katedral, kapela, paroki, cruz, promesa, kristang (cristão), missa, paji (padre), tuang paji (teu padre, senhor padre).
Termos do dia-a-dia:
pasear, jandela, meja, bangku, kadéra, garfu, sâpátu, almari (armário), sem (sem), nyora (senhora), statua (estátua), berok (barco), minyoka (minhoca), redaku, sândál (sandália), ose (você), senyor (senhor: para pessoas que têm autoridade ou para os mais velhos), espada, kamija (camisa), mamonti (prato cheio, como um “monte”), tésta.

Na região de Larantuka, o grupo da Konféria sempre usa a língua portuguesa nas orações e no seu boletim.

domingo, 17 de agosto de 2014

-" Crioulos de base lexical portuguesa "

O crioulo surge pela necessidade de comunicação entre falantes de línguas diferentes num meio dominado por uma língua de prestígio.
Os linguistas não são unânimes quanto à classificação dos crioulos, dando-lhe, uns, a classificação de língua mas a maioria considera-os dialetos.
No estudo dos crioulos, a maior curiosidade é a quase inexistência de crioulos espanhóis. As línguas crioulas de base hispânica tiveram origem ou foram influenciadas por um crioulo português pré-existente. Mesmo em lugares onde a colonização portuguesa não se fez presente com grande alcance de dominação cultural, como em Palenque, na Colômbia, ainda hoje se fala um crioulo espanhol no qual se veem claras influências portuguesas.
O contacto da língua portuguesa com outras línguas da África, da Índia, da Ásia Oriental e das Américas, Central e do Sul, deu origem a vários crioulos de base lexical portuguesa.
 













sábado, 9 de agosto de 2014

- " Tecnologia digital para preservar os jornais portugueses do Havaí

WU, Nina. Endangered collection.
Extraído do jornal Honolu, Havaí, .Publicado em: 06 out. 2013.

No Havaí, Estado norte-americano situado em meio ao Oceano Pacífico, há uma comunidade lusófona e lusodescendente de cerca de 60 mil habitantes – 4,3% da população, de acordo com o Censo dos Estados Unidos da América.




No século XIX, quando havia o então Reino do Havaí, já estava instalada uma ativa comunidade portuguesa. Vindos dos Açores e da Madeira, eles levaram ao meio do Pacífico as malassadas, o pão doce parecido com as filhós, e o ukulele, instrumento musical de cordas semelhante ao cavaquinho. Duas manifestações culturais portuguesas vistas pelo mundo como genuinamente havaianas.
Essa comunidade portuguesa atravessou metade do planeta e chegou ali a publicar vários jornais com notícias em Língua Portuguesa.
No Havaí, há uma comunidade lusodescendente de cerca de 60 mil habitantes — 4,3% da população do Estado norte-americano, segundo o Censo dos EUA.
Por cinco centavos de dólar uma cópia, os leitores do jornal de Língua Portuguesa O Luso em novembro de 1915 poderiam encontrar histórias de primeira página sobre a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Mexicana sob as manchetes “Notícias da Guerra” e “Notícias do México”.

O semanário de quatro páginas teve a maior circulação dentre os jornais de Língua Portuguesa publicados no Havaí entre 1885 e 1927 e foi o de duração mais longa.
As únicas cópias originais conhecidas de O Luso e de outros oito jornais de Língua Portuguesa da época são parte de uma coleção da Sociedade Histórica do Havaí, alojada nos Arquivos e Sítios Históricos dos Lares Missionários do Havaí.
“É uma coleção rara, ameaçada de extinção”, disse Barbara Dunn, diretora administrativa e bibliotecária da Sociedade. “A informação é valiosa. É uma voz do final do século XIX que está à espera de ser descoberta.”

Como parte da iniciativa de digitalização mais recente desta Sociedade, os jornais serão incluídos no acervo dos Arquivos Luso-Americanos Ferreira-Mendes, da Universidade de Massachusetts em Dartmouth, que já oferece acesso público em linha na Internet de jornais dos Estados de Massachusetts e da Califórnia.O órgão dos arquivos em Dartmouth entrou em contacto com a Sociedade em junho de 2010 para iniciar o projeto, que ajudou a custear após descobrir a existência dos jornais do Havaí através de registos da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos [em Washington].
No final da primavera no Havaí [entre maio e junho de 2013], a Sociedade embarcou três volumes empacotados sob medida dos jornais — segurados e avaliados em cerca de 15 mil dólares — para a ArcaSearch, uma empresa do Estado de Minnesota especializada na digitalização de documentos antigos.A ArcaSearch recentemente embarcou de volta os jornais, e as suas páginas delicadas e amareladas foram embrulhadas em um papel à prova de ácidos e retornadas às prateleiras de conservação da Sociedade.De um ponto de vista histórico, Barbara Dunn disse que os jornais refletem o pensamento da comunidade portuguesa do Havaí de finais do século XIX e início do século XX e o que lhe era importante na época.
O primeiro português registado que veio para as ilhas, de acordo com algumas anotações históricas, foi John Elliot de Castro, que navegou para o Havaí em 1814 e eventualmente tornou-se um médico pessoal do rei Kamehameha I [que unificou o arquipélago e fundou o Reino do Havaí em 1810; o reino durou até 1893, quando foi anexado aos Estados Unidos].
Várias ondas de famílias portuguesas imigraram para o Havaí principalmente entre 1878 e 1913 (baseado nos registos náuticos) vindos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar.Eles também eram comerciantes, agricultores, paniolos [vaqueiros do Havaí] e líderes respeitados na comunidade.“É interessante saber quem eram os editores e as casas publicadoras”, disse Barbara Dunn.G. F. Affonso, do semanário da cidade de Hilo chamado A Seta, também trabalhou para o jornal The Honolulu Advertiser, e J. M. de Freitas, da Aurora Hawaiiana, era um membro do conselho eleitoral local.Além de anúncios, desenhados à mão, de empresas tanto de portugueses quanto de norte-americanos — de vinhos por A. Fernandes e de mobiliário pela C. E. Williams & Son —, os jornais ofereciam notícias locais, nacionais e internacionais, juntamente com anúncios de nascimentos, mortes e casamentos.Incluíam ainda cartas dos leitores, anúncios especiais e, por vezes, seleções da literatura portuguesa.
–– “Nove jornais para uma comunidade pequena e iletrada ––

A arquivista de bibliotecas dos Arquivos Ferreira-Mendes, Sónia Pacheco, diz que a meta da organização é digitalizar todos os jornais e revistas de Língua Portuguesa publicados nos Estados Unidos e torná-los disponíveis em linha na Internet.
É preferível escanear os originais em vez de microfilmá-los, disse; e para isso a descoberta dos jornais no Havaí foi estimulante.
1887


                                                                              1912
                                                                       


                                                                                   1917
                                                                           


1933
                                                                                                                                                      
Sónia Pacheco planeia ir ao Estado do Havaí no final do ano, quando os jornais já estiverem disponíveis em linha, para dar uma apresentação sobre como pesquisar nos arquivos. Enquanto o banco de dados será em inglês, os termos de pesquisa devem ser em Língua Portuguesa.
“Muitas pessoas estão familiarizadas com a história, mas não entendem o que está escrito nos exemplares, e o surpreendente é que lá foram nove títulos de jornais para uma comunidade pequena e, em sua maioria, iletrada”, disse. “Para os genealogistas, esta é uma oportunidade enorme. Para os historiadores sociais, isto abre um novo mundo.”
Como parte da primeira fase da digitalização, a Sociedade no ano passado trabalhou juntamente com a Biblioteca Hamilton, da Universidade do Havaí em Manoa, para postar os microfilmes dos jornais ao repositório digital eVols [da universidade havaiana], graças a uma contribuição do Fundo George Mason [de financiamento de projetos académicos do Estado do Havaí].




Doris Naumu é presidente da Sociedade Histórica Genealógica Portuguesa do Havaí.
O acesso aos jornais será de grande valor, de acordo com Doris Naumu, presidente da Sociedade Histórica Genealógica Portuguesa do Havaí, uma organização sem fins lucrativos gerida por voluntários e que ajuda as pessoas na pesquisa das árvores familiares.“Acho que toda a genealogia agora está melhor com a tecnologia moderna”, disse Doris Naumu.“Agora que estão a ensinar as pessoas como reconhecer traços de seus antepassados, é bom conhecer as histórias, bem como os nomes, porque eles ganham vida para você. É bom aprender tudo isto.”Doris Naumu descobriu, através de listas telefónicas velhas, que o ramo português de sua família gerenciou lojas de joalharia.
As metas da Sociedade Histórica do Havaí são preservar e tornar os jornais históricos mais acessíveis ao público. Com a digitalização dos jornais, o público não precisará manusear as páginas quebradiças, o que lhes causa maior deterioração. E colocando-as em linha na Internet, elas estarão disponíveis para mais pessoas ao redor do mundo.“Assim como a Sociedade Histórica do Havaí, queremos de facto tornar todos estes materiais disponíveis, com acesso livre e aberto”, disse Barbara Dunn.Para a Sociedade, o projeto é apenas o primeiro passo em direção aos esforços de digitalizar todo o seu acervo, que inclui 64 jornais publicados em inglês, havaiano e português.  :::
(Tradução de Ronaldo Santos Soares.)