NO DIA DEDICADO À MULHER ANGOLANA
Tendo sido declarada, há alguns dias, pelo Governo angolano, como simbolo histórico de Angola, impõe-se que conheçamos melhor a "Raínha Jinga". Com esse fim, vamos publicar, com os nossos agradecimentos, um excelente trabalho que a nossa amiga escritora Maria Luísa Paiva Boléo teve a amabilidade de nos enviar e que. devido à sua extensão, será publicado em quatro partes.
JINGA - A RAINHA AFRICANA
Texto de Maria Luísa V.
de Paiva Boléo
No tempo em que Cristina da Suécia foi formalmente reconhecida como rei do seu país, outra mulher em Angola quis também ser «rei.» Isto no princípio do século XVII. Os portugueses tiveram de esperar cerca de trinta anos para assinar um tratado de paz com esta poderosa mulher que na História de Portugal ficou conhecida por Ana de Sousa e Angola recorda como a Rainha Jinga
Os primeiros contactos dos portugueses com o Ngola Quiloanji (ou Angola Aquiloangi), senhor do Dongo ou Angola, foram amistosos. Este rei não inviabilizou o comércio de escravos, que foi a grande receita dos portugueses durante largos anos, mas, em contrapartida, exigiu que os portugueses não fizessem como no vizinho reino do Congo, onde impuseram baptismos em massa. Astuto, Quiluanji aproveitou este mercado de escravos que eram levados para longes paragens para, de início, se ver livre de prisioneiros de guerra e outros elementos perigosos que albergava ao seu reino
.
Mas a paz com os portugueses era demasiado precária e o soba, de feitio despótico e humor variável, acabou por entrar em conflito aberto com os portugueses em 1581 ano do nascimento da sua filha Jinga. Muito provavelmente por não ter chegado a acordo, em termos de contrapartidas e quanto ao número de homens que permitia que fossem levados do seu reino para serem vendidos como escravos. Aponta-se, como outro motivo dessas guerras, a construção, nas terras de Quiluanji, do presídio de Ambaca, em 1614.
Referir que, desde 1581, em Portugal existia a União Ibérica - governo dos reis espanhóis.
Mas a paz com os portugueses era demasiado precária e o soba, de feitio despótico e humor variável, acabou por entrar em conflito aberto com os portugueses em 1581 ano do nascimento da sua filha Jinga. Muito provavelmente por não ter chegado a acordo, em termos de contrapartidas e quanto ao número de homens que permitia que fossem levados do seu reino para serem vendidos como escravos. Aponta-se, como outro motivo dessas guerras, a construção, nas terras de Quiluanji, do presídio de Ambaca, em 1614.
Referir que, desde 1581, em Portugal existia a União Ibérica - governo dos reis espanhóis.
Por volta de 1617, morreu, ou foi morto, Quiluanji, que deixou três filhas e um filho adulto. Ngola Mbandi, e outro ainda criança, que, devido ao seu nascimento era o legitimo herdeiro do trono, por ser filho da mulher principal, considerada a legitima, enquanto o filho adulto provinha de uma ligação com uma concubina real (mocama), criada ou escrava. Como se vê mesmo em reinos africanos há estritas hierarquias.
Porém, o filho mais velho, ávido de poder mata o irmão e o sobrinho mais velho, filho da irmã Jinga, afastando assim qualquer hipótese de presumíveis adversários, e assume-se como sucessor. Jinga e as irmãs, Funji (ou Kifuní e Mucambo (ou Cambo), eram também filhas legitimas à luz dos costumes daquele reino.
Quando o governador Luís Mendes de Vasconcelos chegara a Luanda, em Agosto de 1616, havia paz entre os portugueses e o usurpador. Mas, em 1620, voltaram os conflitos. O governador invadiu as terras de Ngola (chefe) Mbandi inflige-lhe duras perdas e além de raptar a mulher principal, aprisiona muitos outros membros da sua família.
Em Dezembro de 1621, o novo governador João Correia de Sousa chega a Luanda e adopta unia atitude mais diplomática, enviando ao rei, Ngola Mbandi, uma pequena embaixada encabeçada pelo padre Dionísio Faria Barreto que dominava bem a língua nativa e lhe propôs a paz e a conversão ao catolicismo. O rei aceitou a paz mas impôs que os portugueses abandonassem o presídio de Ambaca e se comprometessem a apoiá-lo nas lutas contra o Jaga Cassanji, inimigo comum. Por último, pediu que os portugueses lhe restituíssem os prisioneiros feitos pelo anterior governador. Chegou-se a um acordo.
Entretanto, Jinga afastara-se já deste irmão que passou odiar desde que este lhe matara o filho e ela muda-se da capital do Dongo com o marido e as irmãs. Vai então viver para a região montanhosa da Matamba que mais tarde lhe irá servir de fortaleza natural contra os ataques dos portugueses.
É no período do governo de João Correia de Sousa que se vai dar o célebre encontro com Jinga que vai a Luanda negociar a paz. Há discrepâncias quanto à data deste encontro, mas o facto em si é que é relevante.
( continua )
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