Países dos leitores

Países dos leitores

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

- "Lobo Antunes e a Liga dos Combatentes"

Militares ou assassinos ?

Para os meus leitores que não são portugueses, quero esclarecer que a Liga dos Combatentes é uma organização quase centenária, fundada para auxiliar e proteger todos os que combateram sob a bandeira portuguesa.
A Liga dos Combatentes edita uma revista trimestral denominada “Combatente” que, na sua edição de Setembro último, publicou um artigo denominado “A «Cruz» de Lobo Antunes”, de autoria do Presidente da Liga cuja introdução é a seguinte
:

“Uma longa viagem com Lobo Antunes”, é uma publicação em que João Céu e Silva, interpela o escritor que recorda que, na guerra, “tinha talento para matar e para morrer”. E acrescenta: “no meu batalhão éramos 600 militares e tivemos 150 baixas.(…) Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens.”

Depois desta introdução afirma o autor do artigo que:
“Foram estas liberdades literárias …que por não corresponderem à verdade fizeram com que muitos militares se zangassem com o escritor.
….Perante a indignação geral, o Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues, dirigiu uma “carta aberta a Lobo Antunes”, que a imprensa publicou.”

Segue-se a contestação das infelizes e falsas afirmações de Lobo Antunes e o artigo termina pedindo a Lobo Antunes
“…Que utilize o espaço da nossa revista ou do nosso “site”, para esclarecer, confirmar, negar ou dar a sua interpretação sobre as afirmações que terá produzido na referida entrevista e, se assim o desejar, expressar mesmo as suas “memórias de jovem militar”.

Em caixa a revista dá conhecimento aos leitores que:
“… Através da comunicação social, Lobo Antunes veio retratar-se dizendo: “Tenho o maior respeito pelo presidente da Liga dos Combatentes e só por isso respondo a um assunto que considero encerrado.
Como o senhor general sabe, quando falei no Mosteiro da batalha em 2007, apontando para o túmulo do Soldado Desconhecido, disse que éramos todos nós que estávamos ali.
Há uma falha no livro porque eu deveria ter dito que cada Companhia teve 150 baixas ou que cada Batalhão teve 600 baixas (
para que quem não seja versado em assuntos militares possa compreender a alegoria, esclarece-se que cada Companhia tem cerca de 150 homens e um Batalhão cerca de 600 )… Isto porque um pouco de todos nós, no melhor dos casos, morreu na guerra. Não se desce vivo de uma cruz…..”
O artigo termina da seguinte forma: “Registando a resposta atenciosa e pronta do Dr. António Lobo Antunes, sublinhando o seu discurso no Dia do Combatente, na Batalha em 2007, a Liga dos Combatentes assinala o seu agrado com a resposta recebida.”

Estes, os factos !…. Perante eles, como combatente e sócio da Liga dos Combatentes, não posso deixar de expressar a minha surpresa por a Liga mostrar agrado pela resposta recebida !...

Se o senhor Lobo Antunes só justifica a questão das baixas, sem abordar sequer a questão das mortes indiscriminadas de crianças, mulheres e homens e a Liga se dá por satisfeita, que ideia permanecerá ?
Se não houver um forte desmentido e se não se desmascarar a ignomínia atribuída aos combatentes, como vão as pessoas convercer-se que a guerra foi feita por militares honrados ?
Como vão os combatentes convencer os seus filhos e os seus netos de que foram combatentes honrados e não assassinos ?
Não vejo onde possa estar a dificuldade em provar que são falsas as afirmações do senhor Lobo Antunes, mesmo que ele, muito comodamente, considere o assunto encerrado: bastará perguntar aos seus ex-camaradas de Batalhão e tornar públicas as declarações!...

Será bom que a Liga saiba avaliar bem a gravidade do assunto e desminta clara e inequivocamente tais afirmações, denunciando a sua falsidade e a desonestidade de quem as proferiu.

A.Norton


5 comentários:

  1. Concordo, inteiramente e creio que todos os combatentes serão da mesma opinião. A Liga deve deixar de querer ser politicamente correcta e, corajosamente, levar o assunto até ao fim para que não restem quaisquer dúvidas.
    Tenho aguardado um veemente esclarecimento público por parte da Liga e a posição agora tomada só me desilude.

    ResponderEliminar
  2. Fui para Angola no primeiro batalhão. Os "brancos" que lá estavam procuraram transmitir o "ódio" que eles tinham aos negros. Tivemos medo. Tive medo. Nunca conheci ninguém que quisesse matar para "ganhar pontos". Ideia horrível, numa guerra à partida já perdida, sem quaisquer possibilidades de Angola, país inventado, com muitas etnias que se odiavam continuar sempre sob o domínio de Portugal. Os que conheci e com que convivi só queriam voltar vivos e nada mais. Angola seria para perder, mais cedo ou mais tarde.

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Aquando dessa polémica, postei, de imediato neste blogue, a minha indignação pelos ditos de Lobo Antunes. Li, n'O Combatente, quer a carta do Presidente da Liga quer excertos da do Escritor/Médico. Achei esta última uma explanação inteligente, mas não convincente; inteligente, pela pretensa abordagem alegórica; não convincente, pela fragilidade de sustentação e por ausência de resposta a outras questões por si citadas, como, por exemplo, a treta dos prémios chorudos por inimigos abatidos (o que existia era um prémio pecuniário por armas capturadas). Li e tenho O livro Os Cus de Judas. Comprei-o por se reportar às Terras do Fim do Mundo (Kuando-Kubango) onde permaneci por mais de 10 meses. A minha Companhia foi render um Grupo de Combate da Companhia sediada em 'Nriquinha, sede da Companhia onde serviu Lobo Antunes. Pelo desaforo então colocado e considerando a fragilidade de argumentação alegórica, é minha opinião que o assunto não foi devidamente retratado pelo autor, razão por que, porventura, penso eu, terá havido alguma precipitação da Direção da Liga em não o ter feito
    refletir no seu conteúdo escrito, pois a matéria é de extrema sensibilidade para todos os Combatentes, gente honrada que defendeu uma causa, à época eminentemente nacional e inquestionável para a quase totalidade dos cidadãos portugueses. Termino, citando o Lema do meu Batalhão (Batalhão de Caçadores 2872) cujo conteúdo, por si só, põe luz em mentes ainda eventualmente duvidosas: CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA.

    ResponderEliminar
  5. Um lobo pode causar estragos...
    Conquanto eu nem de longe acreditaria em pontos conseguidos pela morte de crinaças e mulheres.

    por alguém nascido em solo luso?
    Não!

    Ainda que algum tivesse essa chaga aberta em seu caráter.

    Nem creditaria um ponto sequer a quem espalha essa asneira, que no fim vira veneno mortal derramado na honra de quem defendeu a pátria, ainda que não soubesse, a maioria das causas daquela guerra.

    ResponderEliminar